domingo, 5 de abril de 2015

Fortaleza: Diário de bordo em uma viagem no articulado teste

(Texto publicado originalmente em Fortalbus.com no dia 19/02/2014)

O dia 17 de fevereiro de 2014 foi de muita expectativa e também  um marco para o transporte fortalezense. Depois de 14 anos, usuários puderam, enfim, se deslocar à bordo de um ônibus articulado operando em linha regular. O fascínio era notório desde o primeiro contato visual com o veículo, atraindo as atenções de todos aqueles que cruzavam por ele pelas ruas. Este é um relato de minha experiência durante uma viagem na linha 041 - Parangaba/Oliveira Paiva/Papicu, cujo ônibus se encontra realizando testes.


Através de informações de colegas de hobby, soube que o ônibus estava com atraso médio em 1h20min - o que desestruturou por completo os planos de quem pretendia dar uma volta com base nos horários divulgados em grupos de discussão. Mesmo de posse dessa informação, fui ao Terminal da Parangaba por volta das 18h30 da última segunda-feira para ter a oportunidade de conhecê-lo de perto.

Ao me informar com fiscais sobre a previsão de horário, um deles afirma que o articulado chegaria às 19h08. Entretanto, o outro fiscal reforçou o atraso, ponderando que ele não cumpriria a viagem no prazo estipulado. Mesmo assim, aguardei-o, já sabendo da longa espera que já estava se iniciando. Eis que o grandão chega ao terminal às 19h11, três minutos após o previsto. Para quem estava com atraso equivalente à meia viagem, surpreendeu. 

Era chegada a hora! Nunca havia tido a sensação de andar em um articulado na própria terra. Lembro-me de ter visto os finados da CTC, há muito tempo atrás, ainda criança. Só olhado. Já passei pela experiência, mas em outras cidades. Em Fortaleza seria a primeira vez. Vamos nós!   

Como afirmado, o ônibus chama a atenção. Convém destacar que a linha 041 é extensa e abrange regiões periféricas e centrais. No sentido Papicu, primeiro vem os bairros mais distantes, como Serrinha, Passaré, Boa Vista e Castelão. Nas calçadas, os moradores costumam ter o hábito - cada vez mais raro, devido à insegurança - de conversar na calçada. Lanchonetes e churrasquinhos também são comuns. 

Quando passa o articulado, todos paravam para vê-lo. Acompanhavam de uma ponta à outra. Dedos admirados eram apontados em direção ao veículo. Seguia-se os comentários. Muita gente na casa dos 40 anos. Certamente, deveriam estar se recordando dos "sanfonados" da CTC, que um dia já foram seus contemporâneos. Também havia jovens, movidos à curiosidade e com alto nível de desejo por veículos automotores (estou sinonimizando os carros, evidentemente), que não deixavam de externar suas mais profundas vontades automobilísticas enquanto a majestosa composição seguia viagem.

Dentre essas reações, uma em especial me chamou a atenção. As pessoas abriam um sorriso, elas riam. O que isso significa? Me desprendo de toda interpretação pejorativa e óbvia que cerca esta reação, e que, em parte, tem a ver com o discurso de ódio de setores da sociedade que ignoram a valorosa história e contribuição do nordestino para o país. Sim, os sorrisos!

É sabido que o transporte está passando por transformações. Em outros lugares, essa mudança já é rotina. Apesar do atraso significativo de Fortaleza, acredito que a mudança por aqui está em fase embrionária. Antes embrião do que nada. Os articulados carregam consigo toda a concepção de modernidade e eficiência que sempre deveria ser o mote do transporte urbano de passageiros. Uma realidade que é distante para muitos, mas que não é impossível de vivê-la. Essa concepção se traduz no sistema que dá prioridade ao ônibus e credibiliza o cidadão a utilizá-lo para os seus afazeres diários.

Os sorrisos podem ser entendidos em duas partes: um, a simples admiração pela beleza do ônibus, pela novidade, pelo inusitado, e por ter possibilidades escancaradas de acesso, visto que é um público que depende majoritariamente desse meio de condução. Dois, desdobrando essa possibilidade, vem o discurso do incentivo ao transporte coletivo em detrimento do individual. Essas reações são as mais positivas de todas, pois, ao menos, conseguiu transmitir o mínimo de credibilidade ao cidadão (até mesmo quem estava dentro de seus carros não deixavam de admirar), devido ao porte do articulado, capaz de transportar mais pessoas e em menos tempo, se adequado aos corredores exclusivos.

Quanto ao seu desempenho, não havia curva ou rua em que ele não abrisse passagem. Somado à perícia e destreza do motorista, a viagem seguiu sem maiores entraves no trânsito. Aliás, o articulado em si não trouxe transtorno algum, no momento em que pude conferir. Apenas um acidente no cruzamento da Oliveira Paiva com Washington Soares deixou o fluxo lento. Mesmo em ruas onde haviam carros estacionados dos dois lados da pista, próximo ao cruzamento - o que é um absurdo mesmo para os convencionais, o articulado passou pela prova de fogo com maestria. Vale ressaltar o "respeito" que possui o possante. Em cruzamentos onde a preferencial não era a do ônibus, rapidamente os motoristas, tanto de carros como de coletivos, davam passagem. Coisa rara na cidade.

Fim de viagem. Fim de relato. É mesmo um relato? Sim, é. A abordagem sobre o desempenho do articulado não merece o devido aprofundamento porque isso nunca foi novidade para Fortaleza. Antes de mais nada, o foco deve se ancorar no valor e potencial humano do transporte, entendido como qualidade de vida e fator de desenvolvimento das cidades, tal como foi exposto aqui e que, espero, sejam tiradas reflexões acerca do fato para as mudanças que estão por vir no futuro.

Articulados em Fortaleza são indícios da nova realidade do transporte

(Texto publicado originalmente em Fortalbus.com no dia 02/02/2014)

Na última quinta-feira (30), nublada e de clima muito agradável em Fortaleza, estava eu no Terminal do Papicu, aguardando o próximo ônibus da linha 086, rumo ao Antônio Bezerra. Durante a espera, me peguei observando as pessoas, os coletivos, as nuvens e qualquer outro detalhe pormenorizado o qual eu pudesse aprofundá-lo. Em um súbito, as pessoas que estavam à minha frente, eram quatro, viraram seus rostos para a esquerda, na direção da entrada do terminal. Reparado esse detalhe, acompanho-os e, para a minha surpresa, vejo um ônibus articulado fazendo a curva terminal adentro. Era o tão comentado Caio Mondego que veio à Fortaleza para testes.

Este texto também possui um viés abertamente "busológico", ou seja, falo enquanto admirador e permito dar vazão aos sentimentos que tenho com o objeto que admiro. Portanto, para tal, senti de imediato uma emoção que só é sentida quando estou diante de algo que eu almejo e que estou próximo de realizar, no caso, andar de articulado em Fortaleza. Não é algo desejado somente a mim, mas aos usuários que estavam ali também, embasbacados ao verem aquele grandão estacionado na plataforma que corresponde à fila em que eu estava (para o meu deleite). Porém, ainda não era o momento de embarcar, o articulado estava lotado, não de passageiros, por enquanto, mas de gestores da ETUFOR e do Sindiônibus que examinavam o coletivo. 

Foi a primeira vez que eu tive contato com o referido possante. Tive a oportunidade de andar em outros articulados em outras cidades. Mas ver um novamente em minha terra natal, depois de 14 anos (a última vez foi em 2000), em um terminal de passageiros, foi marcante. Digo isso porque há tempos vejo gente afirmando, em grupos virtuais de discussões sobre transporte, que articulado não teria vez por aqui. Os tempos mudam, a demanda pede e um articulado realizando trajetos de linhas urbanas, mesmo em caráter experimental, já é muita coisa para quem não acreditava. Minha posição quanto à isso era a mais paciente possível, evitando entrar em discussão com os incrédulos, pois saberia que, mais cedo ou mais tarde, iria acontecer.

Diga-se de passagem, o desempenho do articulado no terminal não diferiu muito dos demais ônibus, convencionais. As plataformas, cujo modelo é padrão nos demais, conseguem atender às especificações dos modelos de piso baixo, totalmente acessível. Passar na lombada não foi problema, devido à suspensão. Manobrar também não foi entrave. O único problema, e é importante destacar, é que os coletivos que chegavam após o articulado, enquanto estava parado, causou um pequeno transtorno no tráfego do local devido ao atual espaço, que já não comporta mais a demanda, que não é a mesma de 22 anos atrás, período em que foi concebido o projeto do Sistema Integrado. Logo, uma estrutura mais ampla proporcionaria maior comodidade para as operações de um veículo desse porte. Aliás, conforme divulgado pela imprensa, nos próximos meses terão início as obras de ampliação e reforma dos terminais de ônibus da capital, justamente para acomodar os articulados que irão operar nos corredores a serem implantados.

Ressalto que constatei o bom desempenho do articulado apenas no Terminal do Papicu. Sabemos que existem vias em Fortaleza que não são propícias para a sua operação. Entretanto, existem aquelas que são adequadas (largas e bem sinalizadas), sendo perfeitamente possível a realização de testes. Resta escalá-lo para operar em linhas que trafeguem em ruas e avenidas com as características citadas. Essas linhas existem. Há 25 anos atrás entraram em operação os primeiros articulados da cidade, rodaram por 11 anos, e as condições viárias, creio eu, deveriam ser inferiores a que encontramos hoje. Então, porque relutar em dizer que um ônibus desse tipo não pode voltar a rodar?

É evidente que precisa de toda uma estrutura para adequar as operações. Pessoalmente, acredito que tal estrutura está prestes à chegar, a curto prazo. Já é notório a intenção do órgão gestor em implantar o corredor BRT Antônio Bezerra/Centro, com todos os elementos que o constituem como tal, o primeiro da cidade. Ao que parece, a atual gestão, principalmente da pasta de transporte, não medirá esforços para concretizar esse apelo antigo da população. O fato de articulados realizarem testes indica que mudanças estão para chegar, e que serão inevitáveis. Aos mais céticos, suas afirmações caíram por terra. Mas venham dar uma voltinha, afinal, vocês também admiram ônibus.

Fortaleza: Antes binário do que viaduto

(Texto publicado originalmente em Fortalbus.com no dia 10/03/2014)

Na última sexta-feira, a Prefeitura de Fortaleza anunciou as primeiras ações a serem realizadas por meio do Plano de Ações Imediatas em Transporte e Trânsito (PAITT) nos próximos meses. Entre elas, está a implantação do sistema binário entre as avenidas Santos Dumont e Dom Luiz em 31 de maio próximo, que contemplará corredor prioritário para transporte coletivo, ciclofaixas e o ganho de mais faixas para os demais veículos. A medida acarretará na retirada de árvores que estão no canteiro central das avenidas e, no caso da Dom Luiz, a remodelação da Praça Portugal, para que seja viabilizado um cruzamento no lugar da atual rotatória.

E é justamente nessas questões ambientais, arquitetônicas e valor histórico que reside o enredo do que promete ser mais uma novela e uma pedra no sapato da administração municipal.

O argumento pró-verde sustenta que a retirada das árvores irá provocar aumento nos índices de calor em uma cidade que já é carente de espaços arborizados. Em consonância com o discurso ecológico, vem o argumento daqueles que julgam a divisão da Praça Portugal em quatro partes um prejuízo histórico incalculável. Seriam 60 anos de história, preservação do arranjo arquitetônico e de espaços públicos de convívio jogados por baixo de asfalto. Manifestações contrárias às medidas estão sendo articuladas.


Todos esses elementos nos remetem ao mesmo imbróglio envolvendo a construção dos viadutos no Cocó. Cenas dos próximos capítulos.

É preciso ponderar que Fortaleza não comporta mais o ritmo frenético de seus nativos em se tratando de mobilidade. Ações emergenciais, tal como sugere o PAITT, devem ser postas em prática. Não é a toa que o plano não prevê intervenções de grande impacto, como a construção de viadutos e túneis ou desapropriações (o que deve ser reconhecido), nos locais de tráfego mais denso, visando soluções a curto prazo. Os binários se apresentam como uma solução eficiente e não demandam interferências significativas em infra-instrutura.

A Praça Portugal, infelizmente, foge à essa regra. Fiquemos somente por esse tópico.

Rotatórias não estão dando conta. Ainda mais com os "corteses" condutores que não possuem a generosidade de dar passagem ao seu colega, em uma guerra que não se sabe de quem é a preferencial. No caso específico, as dimensões do girador são estreitas, assim como as demais avenidas que a circundam, e não favorece a fluidez de veículos e coletivos. Principalmente coletivos, que amargam os atrasos decorrentes dos engarrafamentos ali formados. O acesso à praça é quase uma missão impossível. A mesma "cortesia" dos motoristas também atinge os pedestres, que não dispõem de qualquer equipamento que permita a travessia.

O espaço ganha vida somente aos finais de semana, onde jovens de várias tribos se encontram para divertirem-se, cada um à sua maneira. E só. Nos demais dias, e por estar localizada em meio ao coração financeiro da capital, é uma raridade encontrar cidadães residentes do local utilizando a praça em momentos de lazer. É uma questão de funcionalidade. Ratear e torná-la mais acessível, como prevê o projeto, parece ser um dos caminhos mais "democráticos" para a utilização plena da Praça Portugal.


Lamentavelmente, é necessário cortarmos da própria carne. Mas não esqueçamos, também, que Fortaleza paga um preço contraído de décadas e décadas atrás, através do crescimento demográfico e ocupação desordenada da cidade, o não estabelecimento de uma lei de ocupação e uso do solo, que também está atrelada ao não cumprimento de um Plano Diretor, e, em menor grau, dos responsáveis pelo desenho da cidade, que não atentaram à demanda futura. Qualquer gestão que ousasse intervir na mobilidade urbana, sobretudo em regiões como a Aldeota, iria carregar esse abacaxi, o qual Roberto Cláudio está segurando.

Entretanto, é de suma importância destacar que tais intervenções devem vir acompanhadas de planos que priorizem o transporte coletivo, que incentive o cidadão a trocar seu carro pelo ônibus, ou que adote outros meios individuais não-motorizados de locomoção. Tem-se que estancar o crescimento vertiginoso de veículos particulares, que são utilizados de maneira "supérflua" e mesquinha por muita gente. O binário possuirá faixa prioritária para coletivo e ciclofaixas. Somente assim esses ajustes viários, que devem ser pensados a longo prazo, compensarão os eventuais prejuízos ocasionados.

Pular catraca é uma constante nos ônibus em Fortaleza

(Texto publicado originalmente em Fortalbus.com no dia 12/03/2014)

Prática cada vez mais comum - e que não deveria ser - é a rotineira ação de jovens que se habituaram a não pagar a tarifa nos coletivos de Fortaleza. Aliás, jovens esses que são de se duvidar as suas reais aspirações enquanto carregam em seus vigores o título em potencial de "o futuro do Brasil". Trajados com bonés, colares reluzentes, roupas que servem mais à marca do que a função primeira que lhes deveria ser utilizada, juntamente com seus colegas, esperam o momento certo de pular a catraca do ônibus. 

É claro que as vestimentas não são condicionantes, trata-se apenas de mera identificação. Porém, a moda está tão difundida que fica difícil discernir quem é quem.

Infelizmente, são jovens que não conseguem enxergar em si próprios as suas capacidades e não correm atrás de uma vida menos desregrada. São oriundos da periferia, onde as condições de sobrevivência, em muitos casos, parece mais um vale-tudo para garantir a subsistência. Para isso, recorrem a métodos nada honestos. Eles se acomodaram, juntamente com o silêncio do Estado - o qual também não se deve eximir da responsabilidade de assisti-los. 

O fato de não pagar a passagem é um dos reflexos dessa acomodação. Produto deste mesmo processo, um "pseudo-poderio" age sobre esses jovens, que aparentam impor uma certa imunidade. Nem ouse impedi-los ou contrariá-los! O resultado pode ser nada amistoso, visto a "autoridade" que eles querem transparecer. Os pais não param, o Estado não para, e sobra para os operadores em transporte freá-los? Não é justo, pois são tão vulneráveis quanto todo mundo.

Um simples - e infeliz - fato que ocorre no transporte coletivo é motivo para levantar uma tentativa de análise da conjuntura social vigente em nosso país (o que foi feito neste artigo). Para remediar práticas endêmicas como a de pular catraca, e a de aprender a conviver respeitosamente em grupo, a Educação continua sendo a principal saída. E tem que ser logo desde criança. Essa medida refere-se à todos os envolvidos. Em primeiro lugar, os familiares, ao impor que tudo na vida tem limite, e em seguida o Estado, devendo propiciar os equipamentos necessários ao pleno desenvolvimento intelectual e cultural do indivíduo. Pena que os resultados surgirão a longuíssimo prazo, e, em se tratando de Brasil, é quase uma utopia. 

Mas a endemia continua, sustentada pelos mais velhos que, a primeira vista, parecem não estarem aptos para mudar. Só resta a firmeza - no sentido estritamente legal da palavra - e posterior cumprimento das leis, visto que nossas legislações são conhecidas pela sua "frouxidão" e desmoralização, visando a disciplina aos transgressores.

Pular catraca também entra no cálculo de reajuste de tarifa.

Fortaleza: Os verdadeiros destinatários dos corredores preferenciais de transporte

(Texto publicado originalmente em Fortalbus.com no dia 19/05/2014)

Ideia surgida na cidade do Rio de Janeiro, em 2011, os corredores BRS (que, na sigla em inglês, significa Bus Rapid System - Sistema Rápido por Ônibus) tem como objetivo proporcionar maior velocidade operacional de coletivos sem demandar onerosos custos e tempo para a sua implantação. Pode possuir uma ou duas faixas delimitadas por uma faixa azul à direita da via, separando-se dos demais veículos. Também conta com paradas distribuídas em grupos de linhas. Tais linhas são identificadas com um número no para-brisa do ônibus, devendo realizar embarque e desembarque apenas nos locais identificados com a mesma numeração. 

Além do transporte coletivo por ônibus, táxis com passageiros também podem utilizar os corredores. Veículos particulares podem adentrar ao corredor somente para conversões à direita em ruas, residências, ou estabelecimentos comerciais. Não é permitido estacionar dentro das faixas ou percorrer além da distância estabelecida (geralmente, 100 metros), sob o risco de penalização pela fiscalização eletrônica.

Em Fortaleza, a mesma ideia foi aplicada em agosto de 2012, na Avenida Bezerra de Menezes. Em setembro do mesmo ano, foi a vez de trechos das Avenidas Tristão Gonçalves, Imperador e Duque de Caxias, além de trechos das ruas Padre Ibiapina, Pedro Pereira, Padre Mororó e Castro e Silva receberem o BRS-FOR. O projeto seguiu a experiência do BRS fluminense, mas a implantação da fiscalização eletrônica aconteceu apenas no início deste ano, somente na Bezerra.

Importante frisar que tais corredores configuram-se como preferenciais, e não exclusivos - aliás, esta última definição já foi assumida pela Prefeitura de Fortaleza como equivocada. É bem verdade que a velocidade média dos coletivos aumentou significativamente nas vias beneficiadas com o projeto (de 12 para 24 km/h, segundo dados oficiais). Entretanto, ainda existem obstáculos que impedem um verdadeiro êxito da funcionalidade destas faixas.

Um desses obstáculos são os táxis. Explico o por quê.

Mesmo que seja entendido como transporte coletivo, visto que os permissionários operam mediante concessão outorgada pelo poder público, os táxis não possuem a mesma "filosofia" que carrega o transporte de massa, como os ônibus e vans, por exemplo. O modal não é acessível, financeiramente, para todos, sem contar nos períodos de reajustes nas bandeiras. Os preços cobrados são demasiadamente elevados. É um luxo que poucos possuem. A lógica é a mesma de quem possui, ou pretende adquirir, veículos particulares: oferecer uma opção de deslocamento ao passageiro sem precisar se submeter ao estresse, sufoco e os eventuais atrasos dos coletivos.

Os táxis estão autorizados a trafegarem pelo BRS-FOR quando houver passageiros à bordo. De início, os motoristas deveriam deixar as janelas abertas para facilitar a identificação de usuários no interior do veículo através das câmeras de fiscalização. Não se sabe do real cumprimento desta norma após a instalação dos equipamentos.

Além do mais, em um táxi (e como em todo carro de passeio) cabem quatro ou cinco passageiros, no máximo. Enquanto que em um ônibus essa capacidade aumenta, pelo menos, 15 vezes mais, e nas vans do transporte alternativo 7 vezes. Nos dias atuais, o discurso da prioridade do transporte coletivo em detrimento do individual (por meio de corredores), onde uma maioria deveria ter mais direitos sobre uma minoria dotada de privilégios (dicotomia ônibus versus carros), está posto em voga. Então, por que permitir que um veículo que transporte uma quantidade bastante inferior de passageiros também possa trafegar em faixas preferenciais?

Um agravante: é comum encontrar taxistas que transformam paradas de ônibus do BRS em pontos fixos. É fácil constatar esse total desrespeito no Beco da Poeira, localizado na Avenida do Imperador, e no North Shopping, situado na Bezerra de Menezes. A ausência da noção de coletividade e irresponsabilidade destes permissionários acabam por ocasionar engarrafamentos e atrasos nos coletivos que precisam fazer embarque e desembarque nestes locais, o que é inaceitável em um equipamento que propõe justamente o contrário.

Portanto, o transporte de massa deve ser encarado como o verdadeiro destinatário da implantação de corredores preferenciais ou exclusivos. Já não basta a má educação de outros motoristas, seja de veículos particulares ou do próprio sistema de transporte, que acabam prejudicando a eficiência dos equipamentos. Destaco que não se trata de um discurso desfavorável aos táxis, que é um serviço imprescindível à população. Mas, sim, de uma questão de rever as reais necessidades para que sejam estabelecidas as corretas prioridades.

Fortaleza: Usuários realizam travessia arriscada em terminal

(Texto publicado originalmente em Fortalbus.com no dia 30/04/2014)

Desde o dia 20 de janeiro deste ano, a 1ª etapa do novo terminal de Antônio Bezerra foi entregue à população. A outra metade tem previsão de término em agosto. Uma das novidades que integra o equipamento, e que será referência para os demais terminais de integração quando reformados, é a travessia subterrânea dos usuários que se deslocam de uma plataforma à outra. Tal modelo de travessia também está presente nos terminais de ônibus em cidades como Curitiba, por exemplo.

Os túneis evitam o conflito entre pedestres e ônibus, que, por descuido de ambas as partes, pode acabar em acidentes, além de representar significativa perda de tempo nas viagens dos coletivos.

Pois bem, acontece que existe muita gente que prefere realizar a travessia do modo tradicional. As grades que foram instaladas na pista para evitar a passagem dos transeuntes e, de certa maneira, forçar a utilização do túnel está sendo desrespeitada. Principalmente no horário de pico, onde os saltos sobre os gradis são recorrentes. Se não dá para pular, procura-se uma brecha entre elas, facilitada por quem possui porte mais franzino. Ou, ainda, procura-se alguma grade que não esteja fixa com as demais, permitindo que qualquer um a remova e abra passagem.

No ritmo frenético de nossas obrigações diárias, não nos atentamos à nossa própria segurança enquanto nos deslocamos no interior dos terminais. Acidentes sempre acontecem devido à imprudência tanto de usuários como de motoristas. Diversas campanhas de conscientização foram realizadas por parte da ETUFOR nos últimos anos, como o incentivo à utilização das faixas de pedestres. Mesmo com o esforço do poder público, parece que não houve o efeito desejado.

A possibilidade de realizar uma travessia segura através de um túnel é uma solução louvável. É prioridade em dobro: para os condutores, que não precisarão se preocupar com a movimentação de pessoas na pista, além de contar segundos preciosos na viagem (o que não implica autorizar alta velocidade), e para os passageiros, que terão total tranquilidade para se deslocar. É verdade que se leva um tempo considerável, mas é importante que se tenha em consideração aquela velha máxima que diz: "Mais vale perder um segundo da vida do que a vida em um segundo".

Quando acontecem os desastres, é de praxe ouvir comentários do tipo: "Os ônibus não respeitam os pedestres" ou "Não tem quem oriente o trânsito". Quando existe um equipamento para garantir a integridade física dos usuários e que não é utilizado, está na hora de repensar nossas atitudes, sermos mais responsáveis consigo mesmos e ter um pouco de bom senso.

Em tempo: Na noite dessa terça-feira (29), haviam técnicos realizando reparos nas grades do terminal. Talvez possa estar relacionado com as constantes infrações.

Fortaleza: Ligação alternativa entre Lagoa e Papicu facilitaria deslocamento de usuários

(Publicado originalmente em Fortalbus.com em 15/09/2013)

A exemplo da 086, que é fruto da unificação das linhas 200 - Av. Bezerra de Menezes e 850 - Av. Santos Dumont, penso que também seria viável a criação de uma outra linha que ligue o Terminal da Lagoa ao Papicu a partir da junção das linhas 350 - José Bastos/Lagoa e 901 - Dom Luiz. Haja vista o fato dos usuários do Lagoa terem apenas uma opção para o Papicu (069 - Lagoa/Papicu/Via Expressa) e uma para a Aldeota (085 - Lagoa/Aldeota), sem falar nos longos intervalos entre um ônibus e outro, além dos usuários da Av. José Bastos que não têm opção para o Papicu, acredito que o itinerário que sugiro poderá atender a essa demanda. A linha José Bastos/Dom Luiz teria o seguinte itinerário:

IDA (vermelho) : Terminal Lagoa, Av. José Bastos, Av. Carapinima, Av. Tristão Gonçalves, Rua Castro e Silva, Rua Conde D'eu, Rua Sena Madureira, Rua Pedro Borges, Rua do Pocinho, Av. Santos Dumont, Av. Dom Manuel, R. Pereira Filgueiras, Av. Dom Luiz, Av. Júlio Abreu, R. Professor Sila Ribeiro, Av. Eng. Santana Jr, Terminal Papicu

VOLTA (azul) : Av. dos Jangadeiros, Av. Júlio Abreu, R. Professor Sila Ribeiro, Av. Eng. Santana Jr, Rua Eduardo Sabóia, Rua Valdetário Mota, Rua Prof. Sila Ribeiro, Av. Júlio Abreu, Av. Dom Luiz, R. Tibúrcio Cavalcante, R. Ten. Benévolo, Av. Dom Manuel, R. Costa Barros, R. São José, Av. Alberto Nepomuceno, R. Dr. João Moreira, R. 24 de Maio, Rua Castro e Silva, Av. do Imperador, Av. Carapinima, Av. José Bastos, Terminal Lagoa

VERDE: No caso do binário entre Santos Dumont e Dom Luiz, segue o trajeto delimitado pela linha verde apenas no sentido IDA. 

Quanto à eficiência operacional, avenidas como José Bastos e Carapinima receberão corredores em breve, porém, matérias na imprensa dão conta de que serão corredores exclusivos (tipo BRT), com paradas no canteiro central, e outras afirmam que serão corredores preferenciais (tipo BRS). De qualquer maneira, está garantida uma estrutura para otimizar a operação da nova linha.

Tristão Gonçalves e Imperador já contam com o BRS. No caso de implantação do binário Santos Dumont/Dom Luiz, também se verifica a possibilidade de implantação de faixas preferenciais. Infelizmente, devido a estrutura dessas avenidas (canteiro central muito estreito) e a grande concentração de comércio e serviços, a implantação de faixas exclusivas torna-se inviável.

Quanto à demanda, acredito que não haveria perda significativa, pois os usuários da 350 e 901 não seriam prejudicados pelo itinerário, que permanecem os mesmos, salvo pequenos prolongamentos. A medida em que o tempo passar, mais usuários saberiam da operação da José Bastos/Dom Luiz e poderiam vir a acrescentar a quantidade de passageiros. A linha seria operada de segunda a sábado. Aos domingos e feriados, voltaria as operações da 350 e 901. Fica a sugestão para análise da ETUFOR.